Os desafios da pecuária de corte
- ESPECIAIS
- Segunda, 07 Novembro 2016 08:52
Ao longo de 2016, o mercado de carne bovina no país atingiu os melhores patamares de preços da história. Segundo dados do “Panorama de mercado das principais atividades da agropecuária paranaense”, estudo produzido pelos técnicos do Sistema FAEP/SENAR-PR, em março deste ano, a arroba do boi gordo chegou a R$ 154,91. No mesmo período do ano passado a arroba foi cotada a R$ 141,10, maior preço nominal registrado até então, 9% inferior ao de 2016.
A explicação para esse cenário está na baixa oferta de animais no mercado. De acordo com o zootecnista Guilherme de Souza Dias, do Departamento Técnico Econômico (DTE) da FAEP, nas últimas temporadas os elevados abates de matrizes devido ao avanço da agricultura sobre as áreas de pastagens em anos anteriores afetou o mercado do boi gordo, com a redução de animais para a reposição e, consequentemente, para o abate em anos seguintes.
“A oferta restrita de gado tem sido um dos fatores que colabora para manter em alta o preço da arroba. Esta escassez de oferta deve continuar pelo menos no curto prazo, isto porque está ocorrendo a retenção das matrizes aproveitando a alta do preço do bezerro”, explica o zootecnista.
Neste ano, os pecuaristas recriadores se surpreenderam diante das altas cotações do bezerro macho, que chegaram a R$ 1.427,81 por cabeça em março. O valor representa uma alta de 17,41% em relação ao mesmo período de 2015. “Os altos valores se tornaram um desafio para os produtores que têm nos animais de reposição o principal custo de produção. Responsáveis por cerca de 50% desses custos, a alta do bezerro foi um fenômeno incidente em todo o país devido ao acelerado abate de fêmeas em anos anteriores”, destaca Dias.
Só para se ter uma ideia do alto valor do animal, o produtor precisou vender um boi gordo de 16 arrobas para comprar 2 bezerros na metade de 2016. “Isso se deve ao fato de que em um cenário de preços favoráveis os pecuaristas passam a aumentar o plantel, retendo matrizes. Como o ciclo produtivo do bovino é longo, cerca de três a quatro anos, os reflexos dessas ações começarão a surtir efeito apenas em 2017”, avalia Dias.
Margens apertadas, com a alta do milho
Ao mesmo tempo em que a arroba atingiu os melhores patamares, os pecuaristas estão sentindo no bolso a alta dos custos de produção. Segundo o coordenador do Laboratório de Pesquisas em Bovinocultura (Lapbov) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Paulo Rossi, a alta do milho refletiu diretamente na atividade. “O preço da alimentação subiu em torno de 40%, o que representa um grande impacto para o produtor rural”, avalia Rossi.
O pecuarista Mário Zafanelli, de Umuarama, região Noroeste do Paraná sentiu no bolso. Em uma área de 940 hectares, ele cria, recria e engorda um plantel de 1,8 mil bovinos em sistema de confinamento.
Segundo o pecuarista, ao longo de 2016, os custos de produção subiram em média 16%, principalmente por causa da alta do milho. “Estou tendo um prejuízo de R$ 1 ao dia por animal. Para ter um ponto de equilíbrio na atividade a arroba deveria estar cotada pelo menos a R$ 180”, destaca. Com as margens apertadas, o produtor conta que pretende diminuir o número de animais no confinamento em 2017. De acordo com ele, cada bovino consome em média cinco quilos de um concentrado feito com milho e soja. Mário trabalha com a raça Nelore e também faz o cruzamento industrial entre outras como a Aberdeen-Angus.
Hoje, o produtor abate as fêmeas com uma média de 12 arrobas em 15 meses, e os machos com 16 arrobas, no período de 18 meses. Há 10 anos, ele entrega em média 15 animais por mês à Cooperativa Caiuá, em Umuarama. A remuneração ocorre de acordo com a classificação do animal (qualificação do acabamento) e recebe um plus de 7% a 10% em relação ao preço da arroba do boi no mercado. “Essa é uma das grandes vantagens de trabalhar de forma integrada com a cooperativa”, ressalta o pecuarista.
Assim como Mário, o produtor rural Renato Luiz Zancanaro, de Cascavel, região Oeste do Paraná, também sofreu com o aumento nos custos de produção. Nas contas dele, o aumento foi de 30% nos últimos meses. Nos 1,6 mil hectares da Fazenda Rio da Paz, a 30 quilômetros de Cascavel, ele planta soja, milho, feijão, aveia e engorda 2,3 mil cabeças de gado com genética Angus. Desde 2008 é cooperado da CooperAliança, em Guarapuava, onde entrega 60 animais por mês.
Hoje, ele abate os machos de 18 arrobas, com 11 e 12 meses de idade. Os números representam um ponto fora da curva da pecuária paranaense, já que a média do abate de bovinos é de 37 meses de idade. Pelas contas de Zancanaro, ele ganha 13% a mais no preço da arroba do boi. “Diante do aumento nos custos de produção, a solução para o pecuarista é investir na produção de um animal que converta a alimentação em rendimento de carcaça e com valor de venda. Outro fator que está equilibrando as contas é trabalhar no sistema de cooperativismo”, analisa o produtor.
Pecuária Moderna
Com um plantel total de 9,18 milhões de cabeças de bovinos, somente em 2015, o Valor Bruto de Produção (VBP) da bovinocultura de corte do Paraná movimentou um mercado de R$ 3,68 bilhões, segundo o Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria da Agricultura e Abastecimento (Seab). A atividade ocupou a quinta posição no VBP total da agropecuária paranaense.
Diante da importância deste setor na economia paranaense, o governo estadual lançou em agosto do ano passado o Plano Integrado de Desenvolvimento de Bovinocultura de Corte no Paraná.
O objetivo é fortalecer a atividade no Estado por meio de diversas ações, entre elas, a melhoria de índices zootécnicos e a qualidades das pastagens, além de maior remuneração na bovinocultura de corte.
A pecuarista Ligia Franco de Medeiros Buso, de Santo Antônio da Platina, região Norte do Paraná, abraçou as propostas do Plano para mudar a pecuária de corte em suas propriedades que somam 1.419 hectares. Na atividade há 38 anos, ela decidiu dar um novo rumo para a cria, recria e engorda de 850 cabeças de gado. Há dois anos, Ligia e o filho Luís Gustavo de Medeiros Buso, 33 anos, fizeram o curso do Programa Empreendedor Rural direcionado à Pecuária de Corte.
“As aulas me ajudaram a ter uma nova visão sobre a atividade e comecei a fazer um trabalho de planejamento focado em gestão, fluxo de caixa e produção”, relata Ligia.
Após o curso, a pecuarista e mais um grupo de cinco famílias contrataram uma consultoria especializada para melhorar os índices e modernizar a pecuária nas propriedades. Diariamente, ela faz uma coleta de dados sobre o rebanho, como o número de nascimentos e mortes, alimentação, entre outros, e manda para a empresa. A pecuarista conta que já está colhendo os bons frutos do serviço. No ano passado, os bois foram abatidos numa idade média de 26 meses e, para este ano, a meta é reduzir para 24 meses. A médio prazo pretende aumentar o plantel e investir no cruzamento industrial através da Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) em 100% do rebanho. Além disso, Ligia reestruturou a atividade com a recuperação e rotação de pastagens. “Estamos seguindo um calendário, com planejamentos econômico e financeiro para organizar e desenvolver a pecuária de corte. O serviço da consultoria é um investimento que vale a pena”, comenta a produtora.
Desde o segundo semestre de 2016, Ligia se associou a Maria Macia Cooperativa, com sede em Campo Mourão. Segundo ela, a remuneração pela arroba do boi é 5% superior na comparação com o mercado comum. Além disso, a pecuarista está se organizando para fazer compras coletivas de produtos, como vacinas e medicamentos para obter melhores preços para o grupo. “Aos poucos vamos implantando as mudanças e colhendo os benefícios de investir na modernização da pecuária”, avalia.
Ações Judiciais: FENATA e Entidades
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FENATA e ASTA-BAHIA x ADAB
FENATA e ATAESP X CREA/SP
FENATA e SINTAG-AL x CREA/AL
FENATA e SINTAG-RJ x CREA-RJ
FENATA e ATARGS x CREA-RS (registro de revendas de agrotóxicos)
FENATA e ATAGO X CREA-GO
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