O poder da negociação coletiva
- ESPECIAIS
- Quinta, 06 Outubro 2016 09:17
Nos últimos meses, a realidade de 37 produtores de leite do município de Realeza, no Sudoeste do Paraná, passou por uma transformação, principalmente da porteira para fora. A partir das técnicas e conhecimentos de gestão e empreendedorismo adquiridos no Programa Empreendedor Rural (PER), promovido pelo SENAR-PR, os pecuaristas se uniram para negociar, de forma coletiva, melhores preços na entrega do produto junto a 10 indústrias de laticínios da região.
O pontapé inicial deste processo começou com o produtor Mário Nery de Moura, que fez o Empreendedor Rural no ano passado. Na ocasião, o jovem de 33 anos percebeu que o maior concorrente no mercado era o próprio produtor. Então, propôs reunir as forças deste elo da cadeia produtiva em prol de um bem comum, ou seja, melhores preços pelo leite produzido e fortalecimento da atividade na região.
“O curso modificou minha visão do negócio e percebi uma oportunidade de vender em grupo. Precisamos valorizar o que temos nas mãos”, conta Moura, que iniciou na atividade em 2009 e atualmente tem 60 animais, sendo 25 em lactação, que permitem uma produção de 16 mil litros de leite/mês. “O curso despertou no Mário a ideia de formar escala para agregar valor e vender por preço melhor”, destaca Paulo Roberto Golim, instrutor do SENAR-PR e professor do Empreendedor Rural desde 2003.
O grupo começou as atividades em outubro de 2015, com 17 produtores. Logo na primeira negociação, no mês seguinte, conseguiu agregar R$ 0,12 ao litro de leite, chegando a R$ 1,06. Foram diversos reajustes ao longo deste ano até, em agosto passado, atingir R$ 1,97 por litro, 27% a mais em relação ao preço médio, R$ 1,55, pago ao produtor paranaense no mesmo mês, de acordo com dados do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab).
“Antes, cada um vendia por conta própria e o preço era definido pela indústria, sem participação dos produtores, que apenas eram comunicados do valor. Hoje, as empresas fazem a oferta e levamos a melhor proposta para reunião mensal do grupo”, explica um dos líderes do grupo, que faz questão de afirmar que o valor definido junto a indústria é pago para todos os produtores, independente da quantidade que produz. “Mesmo os produtores que não estão no grupo foram beneficiados, pois o preço médio na região aumentou”, acrescenta.
O sucesso da iniciativa se alastrou pela região, e novos produtores entraram para o grupo, que hoje conta com 37 participantes, todos com o mesmo grau associativo. Somada, a produção coletiva alcança, em média, 180 mil litros/mês. “Isso nos dá força para negociar, pois é um volume considerável de leite. As indústrias tiveram que correr atrás”, pondera Moura.
Além da venda do leite, o grupo já conseguiu também desconto de até 50% em exames realizados nos animais. O próximo passo é iniciar a compra coletiva de ração para o rebanho.
ALEM DOS LIMITES MUNICIPAIS
Os bons resultados obtidos pelos produtores de leite de Realeza já chegaram ao município de Santo Antônio do Sudoeste, na região do Estado de mesmo nome. Lá, os produtores também estão conseguindo melhorar o preço pago pelo produto trabalhando de forma conjunta, como os colegas de Realeza.
“O Mário já foi até lá [Santo Antônio do Sudoeste] fazer palestra para o pessoal do Empreendedor Rural e contar o case de sucesso deles. O projeto de Realeza está se espalhando pelo Paraná”, diz Golim.
Na ocasião, Moura fez questão de enfatizar que existem obstáculos no início do processo, mas que não podem estremecer o grupo. “Os produtores tinham desconfiança com a questão de cooperativismo. Além disso, a própria indústria tentou nos desanimar. Mas o grupo se manteve forte”, relembra o produtor.
MESMA LINGUAGEM
O grupo de pecuaristas de Realeza não é uma associação nem uma cooperativa. Apenas uma união de produtores em busca de melhor remuneração por meio do poder coletivo de negociação junto ao mercado. Apesar de não ter um estatuto, para entrar no grupo é preciso se comprometer a fazer o Programa Empreendedor Rural. “Todos precisam falar a mesma linguagem”, reforça Moura.
Além de Mário, que cursou pela segunda vez o PER, outros 16 produtores frequentaram as aulas em 2016. A turma acabou composta única e exclusivamente pelo grupo do leite. Os outros 20 pecuaristas do grupo estão inscritos para próxima turma, em 2017.
“Além das estratégias de comercialização, o curso permite aproximar a estrutura da fazenda. Os reflexos são, entre outras coisas, aumento da renda, do capital humano e da sustentabilidade da propriedade”, ressalta o instrutor do SENAR-PR.
O próprio Mário já realizou algumas transformações estruturais na fazenda, que administra ao lado do pai Silvio. O objetivo é chegar a 52 animais em lactação até 2019, capacidade do barracão de coleta do leite.
“Pequena propriedade precisa de escala”, diz o produtor. “A partir das ideias desenvolvidas no curso, a propriedade sofreu transformações que dinamizaram a atividade. Tenho muito orgulho do líder que o Mário se transformou”, diz o pai coruja.
FONTE: BOLETIM FAEP ANO XXIV nº 1363 - 03/10/2016 a 09/10/2016
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